OUVIR COM OS OLHOS E VER COM OS OUVIDOS?



“O Marques de Lu perguntou a Kan-Sen-Tzu se os rumores de que ele podia ouvir com os olhos e ver com os ouvidos eram corretos. Kan lhe explicou:
- É simples. Meu corpo está em harmonia com minha mente, e ela está em harmonia com minhas energias. Minhas energias seguem meu espírito e ele se sintoniza com tudo que está à sua volta. Sendo assim eu posso escutar o mínimo som e ver o menor movimento. Nada escapa à minha consciência, estando perto ou longe de mim. Eu não sei se percebo as coisas com meus sentidos, se as experimento em meu corpo, ou as conheço em minhas vísceras. Digamos que é apenas um jeito natural de sentir as coisas...” Lieh Tse


Adoro a literatura chinesa antiga. É de uma simplicidade e delicadeza sem igual e, ao mesmo tempo, apresenta uma profundidade de ideias que é difícil a muitos filósofos atuais. Esse trecho foi tirado de um livro de contos chamado “O Imperador Amarelo”. Alguns desses contos datam do século VI a.c.
Apesar dos textos serem bem antigos, seus ensinamentos se fazem bem atuais, visto que até hoje as pessoas não conseguem aplicá-los, ou sequer entendê-los, vivendo da mesma forma há milênios.
Nesse pequeno trecho podemos perceber a diferença entre corpo, mente, energia e espírito, e também entre percepção, experiência e conhecimento. Aprendemos que quando estes estão alinhados, harmonizados, nada escapa à consciência. Mas o que vemos hoje são pessoas completamente desconectadas da sua natureza, desalinhadas.
A própria medicina tradicional trata somente o corpo,  não querem saber de energia e espírito. Para eles consciência é um produto da mente, e a mente é produto do corpo. Só existe o corpo! Podemos dizer que em algumas áreas essa percepção limitada do ser humano está mudando, mas esse movimento ainda é tímido.
Técnicas orientais como a meditação, yoga, acupuntura, entre outras, tem ganhado popularidade, mas, como tudo na sociedade ocidental, são praticadas superficialmente. O que não deixa de ser um caminho. Somos crianças aprendendo como viver. E caminhando chegaremos lá. Ou não! Se andarmos em círculos não chegaremos a lugar algum, ou se não dermos significado a essa caminhada, dificilmente ela será satisfatória.
Outro ensinamento difícil de praticar aqui no ocidente é a passividade dinâmica, o fazer pelo não-fazer.

“O conhecedor quer conhecer sempre mais.
 Quem se une o Tao
 Conhece cada vez menos
 E não deseja nada
 E acaba não fazendo nada
 Tudo é feito através dele.
 Destarte também um reino se constrói
 Pelo não fazer nada.
Mas é destruído pelo fazer muito”
Lao Tse


Apesar de estranho é um conceito bem conhecido. Muitos recitam palavras parecidas todos os dias sem se dar conta: “Seja feita a vossa vontade”. Quando não impomos nossos desejos e vontades e largamos mão do controle das coisas e das situações, Deus – o Tao, o Todo – pode agir através de nós. Assim tudo fazemos sem nada fazer! Lindo, não?
Vamos desacelerar, ficar quietos, nada fazer, nada pensar, nada querer. Nem que seja por alguns instantes todos os dias e deixar que o Todo flua por nós, alinhando nossos corpos e fazendo com que nosso objetivo aqui na Terra se cumpra. Assim viveremos em paz e harmonia conosco, com todos e pra sempre.

- Para mais detalhes dos livros clique aqui : O Imperador Amarelo
                                                                             Tao Te Ching

----------- Bruna Pinto

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