TENHO RAZÃO NA FÉ OU TENHO FÉ NA RAZÃO?



Não consegui nunca vestir a alma com a armadura glacial e bronzea do ateísmo. Sinto uma força instintiva que me arrebata, que me eleva para Deus, sem que aliás, o meu espírito tenha jamais tentado dar forma e corpo a essa irresistível tendência, profundamente abstrata, a essa fascinação espiritual, que grosseiramente e estupidamente, as religiões tem corporizado ...”

Estas são as palavras de Felix Bocayva no prefácio do livro “A Razão Contra a Fé”, o qual uma vez alguém me ofereceu como sendo uma prova da inexistência de Deus. Faço minha as palavras dele. Não consigo desacreditar desta suprema existência, mas também não concordo com a grosseira estupidez de certas religiões.

Concordo, sim, com Rubem Alves quando diz que a religião é como uma gaiola que tenta aprisionar o Sagrado, tratando-o como se fosse seu.

Compreendo a crítica, feita pelo autor do livro em questão, à Igreja Católica. Naquela época ela exercia um grande domínio (na verdade começava a perder o seu poder) e a tudo colocava o véu do sobrenatural, fazendo valer a qualquer custo os seus dogmas.

Naquela época, por volta de 1900/1930, foi muito importante esse questionamento. Fazendo com que o povo, cego e embrutecido pelos propósitos católicos, enxergassem além da cortina religiosa e percebessem que existia um mundo além e que este poderia ser explorado sem medo.

Naquela época ...

Hoje a situação se inverteu. Após quase 100 anos de extremo desenvolvimento científico, a Ciência passou a ser a religião vigente, com seus dogmas inquestionáveis. Aliás, ela mesma anda se questionando sobre uma possível abertura da gaiola. Será que existe realmente um mundo além do estritamente material?

Uma das descobertas que revolucionou o olhar rígido da ciência nesse meio tempo foi a mudança do conceito de matéria. Até a década de 30, sabia-se que o universo era constituído de átomos indivisíveis, estes eram os “blocos de construção”. Assim, a matéria era sólida e estável, e o universo podia ser dividido e estudado separadamente para, com isso, compreender o todo. A partir da década de 30 foram sendo descobertas cada vez mais partículas dentro do próprio átomo. Tantas que não se podia mais compreender o todo a partir de seus pedaços menores. As partículas mais essenciais, hoje, não podem ser estudadas como objetos sólidos e nem separadamente. Só podemos compreendê-las como pontos de energia concentrada e inseparável do todo. Foi assim que fizeram a bomba atômica.

Não somos mais que energia concentrada. Então, quando os místicos falam em “energia” não estão completamente equivocados.

Isso em 1930! O que temos de conhecimento hoje é de “cair o queixo”. Fala-se sobre um novo paradigma na ciência. E, esse, não exclui o lado espiritual. Para ilustrar o que seria esse novo paradigma transcrevo um trecho de um texto escrito por um renomado cientista.

O paradigma, que agora está retrocedendo, dominou nossa cultura por vários séculos, durante os quais modelou a sociedade ocidental, influenciando significativamente o restante do mundo. Ele consiste numa série de idéias e de valores, entre o quais a concepção do universo como um sistema mecânico composto por blocos de construção elementares, do corpo humano como uma máquina, da vida como uma luta competitiva pela existência, a crença num ilimitado progresso material a ser conquistado mediante o crescimento econômico e tecnológico”.

O novo paradigma que emerge atualmente pode ser descrito de várias maneiras. Pode-se chamá-lo de uma visão de mundo holística, que enfatiza o todo em vez das partes. Pode-se também chamá-lo de visão de mundo ecológica, e este é o termo que eu prefiro. Uso aqui a expressão ecológica num sentido muito mais amplo e profundo do que aquele em que é usualmente empregado. A consciência ecológica, nesse sentido profundo, reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das sociedades nos processos cíclicos da natureza. Essa profunda percepção ecológica está agora emergindo em várias áreas de nossa sociedade, tanto dentro como fora da ciência”.

O paradigma ecológico é alicerçado pela ciência moderna, mas se acha enraizado numa percepção da realidade que vai além do arcabouço científico, no rumo de uma consciência da unidade de toda a vida e da interdependência de suas múltiplas manifestações e de seus ciclos de mudança e transformação. Em última análise, essa profunda consciência ecológica é consciência espiritual. Quando o conceito de espírito humano é entendido como o modo de consciência em que o indivíduo se sente ligado ao cosmo como um todo, fica claro que a percepção ecológica é espiritual em sua essência mais profunda, e então não é surpreendente o fato de que a nova visão da realidade esteja em harmonia com as concepções das tradições espirituais”.

Outra descoberta que eu gostaria de comentar é que arqueólogos e historiadores tem pesquisado os fatos narrados nos antigos livros religiosos, inclusive a Bíblia. Estes comprovaram que vários dos fatos descritos são verídicos. As pragas do Egito, o Êxodo, a travessia do Mar Vermelho ( que na verdade não era um mar e sim um rio!). A própria criação da Terra, segundo cientistas, é dividido em 6 períodos distintos culminando com o aparecimento do homem, o que concorda com a descrição feita no livro de Gêneses.

Um ponto que discordo do autor do livro “A Razão Contra a Fé” é quando ele diz que Jesus não existiu realmente porque só existem relatos dele nos escritos deixados por seus supostos discípulos. Isso seria o mesmo que dizer que Sócrates não existiu, pois só se sabe de sua existência através de relatos deixados por seu discípulo, Platão. E disso ninguém discorda.

Minha opinião é que as religiões tentam aprisionar a Verdade, para com ela obterem o controle dos fiéis. Assim como a ciência tentou fazer. Cada uma a seu tempo viu que isoladamente não podem dar conta da realidade última. Nenhuma sozinha está com a verdade absoluta, final.

É chegada a hora de se juntarem. Como já está sendo demonstrado, a razão não é contra a fé e vice-versa. Elas são complementares. O mundo limitado, individual e restrito à visão racional ou religiosa está perto de seu fim.

O autor fala também sobre três tipos de homem: o homem-máquina, que faz o que todos fazem; o homem-animal, que vive para comer, beber, dormir e procriar; e o homem-pensante, este é aquele que além de estômago e genitais, tem um cérebro. Eu me atrevo a acrescentar mais um tipo a esta lista: o homem-integral. Este é indispensável para o futuro da humanidade. Ele, além de estômago, genitais e cérebro, tem um coração e acima de tudo, consciência Um coração que não se opõe ao cérebro, pois sabe que são parte de um mesmo corpo, e que esse corpo, e tudo o mais que existe, é pura consciência.

Outro ponto que quero comentar sobre o livro são os pecados capitais, que o autor coloca como sendo uma negação aos prazeres do corpo e, portanto, à felicidade. Discordo completamente. Alguma coisa só é “pecado” quando feita com exagero. Uma pessoa que come demais, é preguiçoso, raivoso, avarento e que só pensa em sexo, não terá uma vida muito satisfatória, concorda? As “Leis de Deus”, para mim, não são mais que as forças necessárias para que a natureza se conserve em harmonia. Quando falo “natureza” me refiro também a nós, ao nosso corpo e mente.

Minha tese é: no princípio da humanidade (sua infância) os homens eram rudes, não dispunham de faculdades mentais desenvolvidas para entender o funcionamento das coisas. Por esse motivo criaram-se tantos fatos sobrenaturais. A realidade era convertida em mitos para que o conhecimento chegasse ao entendimento do povo. As pessoas precisavam de um Deus tirano e com sentimentos humanos. Eles precisavam temer para obedecer.

Com o tempo esse Deus se tornou piedoso e misericordioso, mas o homem continuava pecador. A autoridade agora era essa. O homem sendo pecador precisava da piedade divina.

Após o desenvolvimento da ciência, do desenvolvimento de um pensamento mais abstrato e racional, a imagem de um Deus governante passou a ser ilusória. Se fosse real deveria poder ser medida e categorizada, como tudo o mais. Essa fase chamo de adolescência da humanidade, pois se rebela contra suas raízes.

Agora, um pouco mais maduros, percebemos que essa revolta contra o que não podemos ver ou medir é mero preconceito. Lanço mão do velho Shakespeare "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". Precisamos de uma teoria da realidade que concilie razão e fé, ciência e espiritualidade. Ainda somos jovens adultos e não compreendemos todas os conceitos e relações que nos são apresentadas (a humanidade e eu também!). Mas isso é só questão de tempo.

------ Bruna Pinto

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