O SEU DEUS OU O MEU?

Quantos “Deus” existem e qual é o verdadeiro? Se olharmos para a quantidade de religiões, podemos responder que existem muitos e que cada uma delas tem seu Deus Verdadeiro.
Vivemos em uma sociedade onde as religiões são basicamente monoteístas, ou seja, acreditam que exista um só Deus. Mas como saber qual deles é realmente o verdadeiro? Se é que existe um verdadeiro...
Em uma certa época tive contato com um pessoal que se denomina Testemunhas de Jeová e eles me disseram que quando alguém nos diz “vá com Deus” não devemos responde pois não sabemos qual o Deus da pessoa. Mas...se Ele é um só, como o da pessoa pode ser diferente? Nessa mesma época um cristão evangélico da Igreja Batista ficou muito contrariado por eu estar “dando ouvidos” ás Testemunhas de Jeová. Segundo ele “essa religião não é verdadeira”. O novo Papa pede respeito entre as diferentes religiões, mas será que no discurso ele diz que o Deus do outro é o mesmo que o dele? E essa questão também é encontrada nos meios esotéricos, que não se dizem religiões mas filosofias espiritualistas.
Como sou muito curiosa, estudei e frequentei diversas religiões – e filosofias espiritualistas - e posso concluir que todas acreditam que o “seu Deus” é o verdadeiro, que a sua visão das coisas é a correta (ou mais evoluída) e apresentam algum tipo de preconceito com quem pensa diferente. Me lembra muito time de futebol ou partidos políticos.
Acho que existem tantas religiões quanto tipos de personalidade ou estilo de vida, pois assim todos podem buscar a Deus sem fazer muitas mudanças, escolhem o caminho que mais lhe agrada. Até aí tudo bem. Não podemos é esquecer que Deus é um só e, portanto, o meu é o mesmo do seu, só damos nomes e roupas diferentes.
Gosto muito de como Rubem Alves, grande escritor do nosso tempo, lida com esse assunto:

Ter uma religião é falar as palavras sagradas daquela religião e acreditar nelas. As religiões se distinguem e se separam: pelas diferenças das palavras que usam para se referir ao sagrado. Se elas nada falassem, se houvesse apenas o silêncio diante do Grande Mistério, a Babel das religiões não existiria. Diante do Grande Mistério apenas uma palavra é permitida, a palavra poética, porque a poesia não o diz mas apenas aponta para ele. O Grande Mistério está além das palavras.”

Um pássaro voando é um pássaro livre. Não serve para nada. Impossível manipulá-lo, usá-lo, controlá-lo. Pássaro inútil. E esse é, precisamente, o seu segredo: a sua inutilidade – ele está além das maquinações dos homens. Sua única dádiva é o seu canto. Só faz um milagre, um único milagre: quando, chorando, lhe peço: “Passa de mim esse cálice”, ele canta e o seu canto transforma a minha tristeza em beleza. Por isso eu nada lhe peço. Sei que ele não atende a pedidos. O seu canto me basta: ao ouvi-lo transformo-me em pássaro. E voo com ele...

Mas aí vêm os homens com as suas arapucas e gaiolas chamadas religiões. E cada uma delas diz haver conseguido prender o Pássaro Encantado em gaiolas de palavras, de pedra, de ritos e magia. E cada uma delas afirma que o seu pássaro engaiolado é o único Pássaro Encantado verdadeiro...

Por que prenderam o Pássaro? Porque o seu canto não lhes bastava. Não lhes bastava a beleza. Na verdade, não o amavam. O que os homens desejam não é a beleza de Deus. O que eles desejam é manipular o seu poder. O que eles querem é o milagre. O canto do pássaro poderia lhes dar asas para voar. Mas não é isso que querem. O que desejam é o poder do pássaro para continuar a rastejar: Deus, transformado em ferramenta. Ferramenta é um objeto que se usa para se atingir um fim desejado. Assim são os martelos, as tesouras, as panelas... O que as religiões desejam é transformar Deus em uma ferramenta a mais. A mais poderosa de todas. A ferramenta que realiza os desejos. Como o gênio da garrafa. Pois não é isso que é o milagre, a realização de um desejo por meio da manipulação do sagrado? Só é canonizada santa uma pessoa que realizou milagres: o milagre é o atestado do seu poder para manipular o divino.

E é assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos de todos os tipos, os santos milagreiros são nossos despachantes espirituais, todos eles a serviço dos nossos desejos, atenderão nossos desejos a preço módico, se rezarmos a reza certa e prometermos publicar o milagre em jornal, e pela televisão se anunciam fórmulas, sessões de descarrego, águas bentas milagrosas, exorcismo de demônios, os DJs de cada religião têm uma música na fala que lhes é própria...

Assim, a poesia do canto do Pássaro Encantado se transforma em manipulação do pássaro engaiolado. E não percebem que aquele pássaro que têm dentro de suas gaiolas não é o Pássaro Encantado, que não se deixa engaiolar, porque é como o vento, e voa como quer, e tem uma única dádiva a oferecer aos homens: a beleza do seu canto.”

Depois dessa o que mais eu podira dizer? Somente finalizar com as palavras de Jesus: “amai-vos uns aos outros e a Deus acima de todas as coisas”


----------- Bruna Pinto


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